segunda-feira, 28 de abril de 2014

Idosos com depressão têm pouco ômega 3 no organismo, mostra estudo da USP

Idosos com depressão têm pouco ômega 3 no organismo, mostra estudo da USP

Texto de Rosemeire Soares Talamone, do site UOL

  • Resultados servirão para futuros estudos que avaliem alternativas dietéticas
    Resultados servirão para futuros estudos que avaliem alternativas dietéticas
Estudo realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP revela que idosos com depressão apresentam baixas concentrações de ômega 3 no organismo. A pouca quantidade desse ácido graxo nos participantes da pesquisa pode estar relacionada à falta de ingestão de alimentos ricos em ômega 3. Esta é a conclusão da nutricionista Marina Balieiro Cetrulo, autora do estudo.

A pesquisadora lembra que o déficit de ômega 3 em depressivos pode não estar associado só a ingestão alimentar, mas também à interação da dieta com o metabolismo e uma predisposição genética em incorporar ácidos graxos de forma distinta. "Fatores genéticos podem resultar em uma menor absorção celular de ômega 3, o que já foi demonstrado em modelos animais, onde a dieta pode ser rigorosamente controlada", revela.

Para medir a quantidade de ingestão alimentar de ômega 3, a nutricionista utilizou o chamado recordatório alimentar de 24 horas, que é o simples relato do participante da pesquisa de todos os alimentos e bebidas ingeridas no dia anterior. Os participantes fizeram esse relatório de 24 horas ao dia, por 3 dias não consecutivos, sendo um desses dias no final de semana.  "Não foi incluído na pesquisa aqueles que fizessem uso de qualquer tipo de suplemento de ômega 3. A ingestão de ômega 3 relatada refere-se somente à alimentação habitual dos participantes".

Além do relatório, foram coletadas amostras sanguíneas dos participantes para dosagem dos ácidos graxos. Foram avaliados 35 idosos do sexo feminino, diagnosticados com depressão e em tratamento medicamentoso, e 35 idosos sem depressão — grupo controle — também do sexo feminino, com idade média de 74 e 73 anos, respectivamente.

O grupo com depressão apresentou 1,97% de concentrações de ômega 3 total no soro, enquanto o grupo controle apresentou 2,44%. Já os índices de outro ácido graxo essencial (DHA) foram de 1,01% e 1,35%, respectivamente. "Mesmo depois de ajustes de variáveis, como por exemplo, aqueles que fazem atividades físicas a diferença permaneceu", diz a nutricionista.

Resultados inéditos no Brasil

Ela diz que esses resultados são inéditos para a população brasileira e que são semelhantes aos encontrados na população europeia, descritos em outras pesquisas que buscaram esta associação

"Nossos resultados apoiam futuras investigações que avaliem alternativas dietéticas como, por exemplo, a inclusão de alimentos fonte de ômega 3 na dieta habitual ou suplementação de óleo de peixe em pacientes idosos com depressão", afirma. A pesquisadora lembra ainda que a depressão é a doença psiquiátrica de maior prevalência nesta população.

A pesquisa de mestrado Comparação dos níveis séricos de ômega 3 de idosos com depressão em tratamento e saudáveis foi defendida no dia 6 de março, com orientação do professor Alceu Afonso Jordão Junior, do Departamento de Clínica Médica da FMRP/USP.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

1º Simpósio Internacional de Espiritualidade na Prática Clínica em Porto Alegre - RS


Conversar sobre as crenças espirituais que o paciente tem é algo que já não parece tão distante da realidade de um consultório médico. Se a temática ainda é reprimida pelo ceticismo de alguns cientistas, cada vez mais novas pesquisas procuram entender a importância de abordar a dimensão espiritual da pessoa no tratamento.
O assunto deve ser debatido no primeiro Simpósio Internacional de Espiritualidade na Prática Clínica, nos dias 11 e 12, organizado pelo Núcleo de Psiquiatria e Espiritualidade (Nupe) da Associação de Psiquiatria do RS, em Porto Alegre. Pesquisadores de renome, como o psiquiatra e geneticista da Washington University Claude Robert Cloninger, conhecido por pesquisas em neurobiologia e desenvolvimento de transtornos de personalidade, participam do evento.
Na Santa Casa de Porto Alegre, uma pesquisa inédita realizada junto à Universidade Duke, nos Estados Unidos, coordenada pelo cardiologista Mauro Pontes, já mostrou que a fé causa uma melhora em pacientes submetidos à cirurgia de ponte de safena. A revisão da literatura e as amostras comprovaram que, para os pacientes suportarem melhor a doença, lançar mão da fé é um caminho natural. O desafio, agora, é descobrir os mecanismos em atuação na melhora:
— Queremos mostrar por que a fé diminui fatores que poderiam causar a morte.
Hipertensão, câncer e dor estão entre os casos influenciados pela fé
Segundo a médica psiquiatra Anahy Fagundes Dias Fonseca, coordenadora do simpósio, uma investigação do National Institutes of Health mostra a religião como responsável pela melhora em até 80% diferentes desfechos clínicos, principalmente casos de hipertensão, doenças cardíacas, cerebrovasculares e gastrointestinais, disfunção imunológica, câncer e dor.
Ao examinarem a relação entre o consumo de álcool e atividades religiosas, pesquisadores como Harold Koenig constataram que pessoas que frequentavam a igreja e engajadas em preces tinham índices menores de alcoolismo.
— Crenças e valores são determinantes para o estilo de vida, personalidade e temperamento do paciente. Podem influenciar na forma de encarar o tratamento — diz Anahy.
Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, Alexander Moreira-Almeida explica que há mais 3,3 mil estudos publicados investigando as relações entre religiosidade/espiritualidade e saúde. Os resultados apontam menos depressão, suicídio, abuso de álcool e drogas e melhor qualidade de vida.
Almeida alerta que as crenças religiosas também podem atuar de modo negativo, quando enfatizam a culpa e a aceitação acrítica de ideias, transferem responsabilidades e estimulam a intolerância.
Corpo são, espírito são
Manter o equilíbrio entre as dimensões biológica, emocional e espiritual é o desafio perseguido pela médica homeopata Ana Rosa e de sua filha, a bióloga e estudante de Psicologia Aline, tanto na rotina de trabalho quanto na vida pessoal.
As duas concordam que, para tratar da saúde na integralidade, é impossível deixar de lado as crenças espirituais — no caso delas, a doutrina espírita.
A busca de respostas para questões existenciais e a vontade de compreender comportamentos próprios e externos faz com que as duas frequentem a psicoterapia e participem, semanalmente, de sessões em centro espírita. Como trazem na carga genética um componente para a depressão, mãe e filha também costumam consultar com psiquiatra e tratam o problema específico com medicação.
Como médica, Ana considera muito ortodoxa a visão de seus colegas a respeito do tema. Segundo ela, é importante que os profissionais da saúde saibam perguntar sobre as crenças e valores dos pacientes, pois isso pode ser determinante nos componentes do tratamento:
— Um paciente em doença terminal pode se apoiar na fé para aceitar melhor sua condição. Nem sempre sairá curado, então, a fé pode ser uma forma de aceitar a doença de forma menos dolorosa.
Para elas, a sensibilidade espiritual é como uma ferramenta que pode ser usada em favor da própria evolução. Ana acredita que as pessoas querem comprovações científicas, mas há muitas questões não materiais que ainda não se pode comprovar de forma material. Para Aline, a fé é fundamental, mas não deve ser o único fator da cura em casos de desequilíbrio orgânico ou psíquico. Por isso, considera importante equilibrar quimicamente o corpo e espiritualizar a alma.
>> ENTREVISTA: Claude Robert Cloninger 
Psiquiatra e geneticista norte-americano da Washington University
Renomado professor de Psiquiatria, Psicologia e Genética, conhecido por suas pesquisas sobre a base biológica, psicológica, social e espiritual da saúde mental, Cloninger será o responsável pela conferência magna Uma Nova Perspectiva Científica da Natureza Humana do simpósio internacional que ocorre em Porto Alegre.
A espiritualidade é aceita hoje como cotratamento para algumas doenças?
Existem muitos estudos sobre a eficácia da oração e do toque terapêutico que indicam haver benefícios. Há relatos mais positivos do que negativos.
Há estudos que indicam aspectos psíquicos na cura?
Desde os primórdios, os seres humanos tinham fé em algo imortal que permeia todas as coisas. Virtudes como esperança, amor e fé são autotranscedência e, assim, envolvem conexões entre todas as esferas das quais temos conhecimento pela psique ou pela alma.
Qual a explicação dos psiquiatras para casos de pessoas que dizem escutar vozes e incorporar espíritos? Estes comportamentos podem ser associados a doenças psíquicas, como a esquizofrenia?
Psiquiatras que ignoram ou negam a dimensão espiritual do ser não têm explicação adequada para observações como reencarnação, estados de possessão que exigem exorcismo, clarividência ou desencarnar almas. Tais fenômenos são considerados como síndromes ligadas à cultura ou pensamento mágico, ou delírios e alucinações. Eles são atribuídos a pessoas com psicoses, transtornos de personalidade, estados dissociativos e outras síndromes ligadas à cultura. No entanto, isso não explica como tais fenômenos podem ocorrer em pessoas que são mentalmente saudáveis.
Há algum estudo mostrando isso?
Trabalho realizado no Brasil mostrou que a espiritualidade saudável pode ser distinguida de transtornos mentais pelos perfis dos traços de caráter medidos pelo temperamento. Se a pessoa é boa tanto em autodirecionamento quanto em autotranscedência, ela é considerada racional e intuitiva e, por consequência, saudável. Se ela é rica em autotranscedência, mas pobre em autodirecionamento, então é vulnerável ao pensamento mágico ou ilusão. Como resultado, o estudo da espiritualidade não é confiável a menos que a avaliação da personalidade seja cuidadosamente feita.
NA CONSULTA
Como o tema da espiritualidade pode ser tratado durante atendimento médico
— A abordagem deve ser pouco invasiva para não deixar o paciente constrangido 
— O médico não precisa convencer o paciente a ser religioso. Trata-se de perguntar e saber ouvir 
— Procure achar uma maneira suave para tratar o assunto e observe a reação 
— Faça com que ele se sinta respeitado em sua necessidade espiritual 
— Deixe de lado os preconceitos. Mesmo que você não se importe com o tema, o paciente pode se importar 
Fonte: Mauro Pontes, cardiologista da Santa Casa de Porto Alegre
O SIMPÓSIO 
— 1º Simpósio Internacional de Espiritualidade na Prática Clínica 
— Dias 11 e 12 (sexta e sábado), das 14h às 20h (no dia 11) e das 9h às 16h15min (no dia 12) 
— No Teatro da Amrigs (Avenida Ipiranga, 5.311) 
— Informações e inscrições: (51) 3024 -4846 ou pelo e-mail aprs@aprs.org.br 
— Inscrições a R$ 75 (residentes e estudantes de graduação acadêmica), R$ 100 (profissionais associados à APRS) e R$ 150 (profissionais não associados à APRS)
>> Estudo publicado no Handbook of Religion and Health, do professor de psiquiatria da Duke University, Harold Koening, traz uma revisão literária quantitativa de 1872 a 2010 em publicações em inglês e constata que, da totalidade de estudos, a espiritualidade ou religiosidade contribuíram para a cura em 
86% dos casos de consumo de álcool 
84% dos casos de dependência em drogas 
75% dos casos de tendência ao suicídio 
61% dos casos de depressão
Texto de Lara Ely para o Jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/vida/noticia/2014/04/pesquisadores-debatem-relacao-entre-ciencia-e-espiritualidade-4466370.html)